VITRAIS – INSTRUMENTOS DE EVANGELIZAÇÃO

Dom Paulo S. Panza, O.S.B.

Deus é luz e n´Ele não há trevas (1Jo 1,5). Com esta afirmação, São João nos dá uma das mais belas definições de QUEM é Deus: Deus é luz. O próprio Filho de Deus, ao definir-se a Si mesmo também se apresenta como Luz: Eu sou a Luz do mundo! (Jo, 8,12).

Por séculos, na liturgia da igreja a luz tem sido empregada como poderoso símbolo tanto da fé, como dos fiéis e, mais que tudo, símbolo do próprio Cristo. Ela é usada nos ritos do Batismo e da Confirmação como lembrança de que, como Cristo é luz do mundo, o Cristão, iluminado por Ele, também o deve ser (Mt 5,14). O símbolo máximo da luz na liturgia é a preparação e o acender do Círio Pascal na noite santa da Páscoa. As palavras usadas neste rito solene falam do poder da luz (símbolo do poder de Cristo) que vence as potências das trevas. A própria obrigação de se ter sempre pelo menos duas velas naturais e acesas sobre ou próximo ao altar para a celebração da Missa são lembrança dessa realidade de Cristo com luz e também dos fiéis como iluminados que, rodeiam o altar com a luz de sua fé.

Também a lamparina de azeite ardendo dia e noite diante do Sacrário é símbolo da presença de Cristo e representa o desejo dos fiéis de permanecerem firmes na fé, vigiando diante do Senhor. Na Basílica de Santa Sabina, em Roma, há uma prece junto ao lugar onde se acendem velas que exprime belamente esta ideia: “Senhor, como eu não posso ficar aqui diante de Ti a rezar, deixo esta luz acesa adorando-Te em meu lugar.”Assim sendo, a luz na liturgia e na Igreja não é apenas funcional (para que se possa enxergar) ou decorativa. A luz é simbólica, ou seja, representa realidades maiores e mais profundas.

Mas, além da luz das velas e lamparinas, na construção das igrejas usa-se a luz também como símbolo. Os arquitetos da Idade Média abriram imensos vãos nas paredes das igrejas para permitir que a luz entrasse. Ora, se Deus é luz, a Casa de Deus deveria ser amplamente iluminada. Com o passar do tempo, artistas começaram a colocar os vitrais com imagens da Sagrada Escritura que eram iluminados pelo sol. A arquitetura, as imagens e os vitrais nas igrejas eram chamados: “A Bíblia dos Pobres”, porque mesmo os iletrados ou aqueles que não tinham acesso aos livros da Bíblia, aprendiam os mistérios de Cristo através de sua representação artística presente nas igrejas.

Os vitrais são, na Igreja, não apenas objetos belos de decoração, mas transmissores da fé, da doutrina e instrumentos poderosos de verdadeira evangelização. Isso quando a escolha do que neles representar e a maneira de dispô-los é feita não ao gosto pessoal, mas a serviço do Evangelho e da Liturgia. O que vamos representar? Como vamos fazê-lo? Qual é a verdade de Cristo e da Igreja que queremos transmitir? Qual é o “peso” que isso terá no conjunto de uma construção destinada ao culto católico? Se bem empregados, como disse, os vitrais se tornarão um testemunho belíssimo e muito útil para os cristãos em seu caminho para Deus.

O fato da luz do sol transpassar os vidros coloridos é, por si só, poderoso símbolo: Deus que é luz, ilumina a tudo e a todos. As imagens representadas nos vitrais, ao serem cortadas pela luz poderosa do sol (não concebo a possibilidade de se usar outra luz para iluminar um vitral na igreja!), passam a representar a ação de Deus em suas vidas. Por exemplo, um vitral que representa a Virgem Maria, ao ser atingido pela luz do sol, passa a nos dizer o que aconteceu com Nossa Senhora: foi inundada pela presença de Deus, desde sua concepção. Assim podemos aplicar a mesma ideia a todos os santos, aos anjos, aos mistérios da fé, à própria Igreja e ao Cristo. Dessa forma, um elemento decorativo e funcional passa a ser instrumento de religião, ou seja, que nos ajuda a religar-nos a Deus, a seus Mistérios e ao Céu.

Finalmente, ao contemplar os vitrais numa igreja, somos chamados a nos perguntar: como a luz de Deus tem transpassado e iluminado a minha própria vida e como eu tenho feito essa luz iluminar este mundo?

Vinhedo, fevereiro de 2018.